Apesar de ser a única certeza que possuímos, é a coisa que nos assusta mais. Às vezes me pego pensando sobre o deixar de existir, deixar de ser. O que acontece depois que nossos olhos se fecham para sempre. Para sempre fecharei mesmo os olhos, ou meu corpo espiritual vai sair do meu corpo físico e observá-lo inerte? Ou será um sono eterno, sem sonhos, sem lembranças, sem vida?
Não quero ser mórbida nem nada. Mas às vezes bate um aperto no peito. E se eu dormir e não acordar mais? E se meu coração problemático resolver que não agüenta mais a carga e me levar numa festa, numa dose de vodca, numa caminhada mais caprichada ao lugar que eu não quero conhecer? Terei pouco tempo ou seguirei os passos da minha bisavó e encontre uma morte tardia e suave em casa aos 104 anos? Irei eu primeiro, ou envelhecerei dolorosamente vendo meus amigos, meus amores morrerem antes de mim? Será que nesse momento me conformarei com a danada e a idéia de seu encontro se torne mais leve? Não sei.
Um grande amigo procurou pela morte há algum tempo. Tinha minha idade na época. 24 anos. A vergonha e as tristezas da vida fizeram com que ele rompesse o medo do incerto. Fico pensando se ele se arrependeu ao ver o seu corpo sem vida, ao ouvir nossos lamentos, ao encontrar a lucidez. Espero que lá nesse lugar desconhecido ele tenha sido bem recebido, que o tenham acolhido e ajudado a curar as feridas que tanto corroíam sua alma.
Espero que meu medo seja bobagem e que o que nos espere seja realmente o paraíso ao qual almejamos. A morte é uma realidade que não nos lembramos de conhecer e a incerteza sobre o que virá assusta. A incerteza da certeza. É incerto o nosso destino, mas é inevitável o nosso encontro a ele.