sexta-feira, 3 de julho de 2015

Sobre o preconceito

Nasci do sexo feminino, o considerado sexo frágil. Aqui, se uma mulher se veste de modo considerado provocativo ou se relaciona com uma quantidade que a sociedade considere alta de companheiros, é considerada puta. Em contrapartida, se fosse homem, seria garanhão. Vejo textos que atribuem a culpa às mulheres de abusos e estupros sofridos por homens. Vejo mulheres concordando com esses textos e neste momento me envergonho. Nossa sociedade, por vezes, é machista demais. Daí também que sou o que chamam de parda (uma mistura de todas as raças que existe neste nosso Brasil), minha pele é escura e não tenho vergonha disso. Embora na infância, no colégio e no prédio, zombassem da minha cor, sempre gostei dela. Nossa sociedade, por vezes, é racista demais. Além disso, sou lésbica. Algo que demorei a aceitar, porque fui criada com a mentalidade de que aquilo faria de mim uma pessoa pior. Tinha medo que meus pais me odiassem e que nunca fosse aceita. Fui aceita e, não, eles não me odeiam. E isso também não fez de mim pior, aceitar quem sou me libertou de fingir ser quem não era. Hoje sou casada com a mulher que amo. Vez ou outra ainda leio algumas atrocidades a esse respeito. Não, não sou aberração e não creio que deva ser apedrejada até a morte ou queimar no inferno quando morrer porque o Deus em quem eu creio tem atitudes fundamentadas no amor. Mas nossa sociedade, por vezes, é homofóbica demais. Além de tudo, sou nordestina, recifense com orgulho. Até meio bairrista, às vezes, porque defendo minha terra e meu povo. Li em muitos textos, principalmente na época da eleição, vários xingamentos e dúvidas sobre nossa capacidade intelectual. É verdade que no nordeste temos vários problemas (como tantos outros existem nas demais regiões do país), mas nosso povo é trabalhador e faz de sua capacidade de vencer obstáculos e sobreviver uma de suas maiores armas. Mas novamente, nossa sociedade, por vezes é preconceituosa demais. Menos preconceito, minha gente, em todas as suas formas. Vamos gastar nosso tempo preocupando-nos com nossa própria vida e parando de julgar a vida alheia. Acho que só com isso, já contribuímos e muito. Mais gentileza e amor com as outras pessoas. Todos merecemos respeito.