Eu queria entender a depressão. Realmente queria. Não a questão bioquímica que envolve, isso eu já sei, mas o mais profundo, o sentimento em si. Como tudo começa a se deteriorar dentro de nós, assistimos a tudo, protagonistas (ou seria ela a protagonista?) e expectadores.
Eu me irrito um pouco quando falam "não se deixe levar pelo sentimento", "vá se distrair", "não se entregue". Não é uma questão de opção. Eu não escolho que ela me domine. Eu posso fazer todo esforço do mundo e sair da cama, sair de casa, mas ela continua ali dentro de mim.
Distribuir sorrisos falsos e fingir uma alegria que não sinto, não faz minha dor parar. Distrações não são verdadeiras. No meu pensamento vem apenas: logo mais estarei sozinha com ela novamente. E as pessoas vão me incomodando. Acho que invejo a alegria delas.
O próprio ato de levantar da cama já é uma luta imensa pra mim. Tudo se torna um obstáculo: ter de me arrumar, ter de dirigir, o trânsito, as pessoas e os barulhos. E pra quê? Continuarei só no meio de um monte de pessoas. Lutar para parecer normal. Mas eu não me sinto normal.
Pessoas normais não têm essa compulsão e necessidade extrema de que gostem delas. Pessoas normais, quando desprezadas, mudam o foco e esquecem quem as desprezou. Eu não. O desprezo parece uma reação merecida por algum erro que cometi e que preciso mudar isso. Aí penso que agradando poderei me redimir. Mas no final, aparento ser mais insuportável e paranóica. Afasto as pessoas de mim.
Em geral, tento manter distância, guardar os sentimentos e vivrr superficialmente ao lado dos outros. Talvez assim posso parecer uma pessoa tolerável. Não importa se não sou eu. As pessoas não estão preparadas para conviver com quem eu sou ou, na verdade, eu nunca estive preparada para me relacionar saudavelmente com ninguém. Crio histórias d repulsa e abandono na minha cabeça, que com minhas atitudes, passam a se tornar realidade.
Bajulo quem me despreza. Agrido quem me ama. No fim, terminarei com uma única e temida companhia: eu mesma.